A praia da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, amanheceu nesta quarta-feira (20) repleta de lixo e gigogas, planta que se prolifera em meio a águas poluídas.
A causa do problema foi o rompimento de uma ecobarreira no Itanhangá, na Lagoa da Tijuca. Assim, a vegetação aquática chegou ao espelho d’água pelo acesso do canal no quebra-mar.
O biólogo Mario Moscatelli, que monitora o complexo lagunar, estima que cerca de 70 toneladas de gigogas chegaram à praia da Barra da Tijuca após esse rompimento, e o número pode aumentar nos próximos dias.
Ele explica que no interior da lagoa a quantidade é três vezes maior. Assim mais de 200 toneladas podem alcançar a orla.
“Essas plantas, que trabalham como filtros, se multiplicam numa velocidade e em uma quantidade muito grande. Portanto, quando houve a ruptura da ecobarreira, todas essas ilhas de gigogas se deslocaram do interior do sistema lagunar de Jacarepaguá”, disse o especialista.
A quantidade de lixo também chamou a atenção do biólogo. A Lagoa da Tijuca fica próxima a dezenas de condomínios residenciais e comerciais do bairro.
“É um grande volume de lixo não biodegradável. Basicamente, lixo doméstico, que é lançado dos rios, dos rios para as lagoas e que chegou associado às gigogas”, explica Moscatelli.
Quem mora no bairro relata que a situação é antiga. O morador Cesar Monteiro conta que a situação se repete há quase 30 anos.
“Essa barreira se limita a colocação de boias e cabos. Fica muito lixo, como geladeiras e colchões. Isso foi um paliativo criado há quase 30 anos e que não se vê mudar nada em relação ao tratamento de água. Quando a pressão é demais ela se rompe e vem poluindo toda a praia”, disse.
O oceanógrafo e engenheiro costeiro ambiental, David Zee, também afirma que esse é um problema antigo no local.
“O histórico das gigogas nas praias da Barra inicia na década de 1990. A primeira invasão significativa aconteceu em março de 1994 e desde então só tem piorado. Seja pelo aumento da frequência seja a intensidade do espalhamento”
Ele também chama atenção para os problemas além da poluição com o aumento das gigogas.
“Elas se misturam com lixo e acumulam águas da chuva sendo foco de proliferação de mosquitos da dengue. No meio da lagoa são ilhas flutuantes que multiplicam os mosquitos impossíveis de combater”, disse.
Procurada, a Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) informou que trabalha desde terça-feira (19) na remoção das plantas, com 55 garis que atuam em dois turnos, utilizando uma pá carregadeira e oito caminhões basculantes. A empresa lembrou ainda que só atua na praia e que não tem competência legal para atuar nas lagoas.
A CNN procurou ainda o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), que é responsável pela ecobarreira, mas ainda não obteve resposta. A concessionária Iguá, que opera os serviços de fornecimento de água e coleta de esgotos da região, se pronunciou em nota, disponível na íntegra abaixo.
Posicionamento da concessionária Iguá:
“A Iguá iniciou sua operação no último mês de fevereiro, ciente dos desafios e compromissos de longo prazo assumidos. A companhia não medirá esforços para atingir as metas contratuais de 99% de cobertura do serviço de água e 90% de coleta e tratamento de esgoto.
Em relação às contrapartidas ambientais, o contrato prevê, nos próximos anos, investimentos adicionais em três grandes projetos a serem aprovados pela AGENERSA (Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico do Estado do Rio de Janeiro) e Governo do Estado, além de requererem o licenciamento ambiental do INEA para serem iniciados.
No que diz respeito ao Complexo Lagunar da Barra da Tijuca estão previstos investimentos da ordem de R$ 250 milhões em projetos que contribuam para a revitalização das lagoas. Ainda na fase de Operação Assistida, a empresa deu início a ações de curto prazo, que seguem em andamento, como a remoção de cerca de 10 toneladas por dia de resíduos sólidos na Lagoa do Camorim, além da criação de um viveiro com 50 mil mudas de mangue para restaurar este importante corredor ecológico.
Ao longo do contrato, a companhia investirá mais R$ 126 milhões em coletores de tempo seco, e outros R$ 305 milhões em expansão da rede de esgotamento sanitário nas áreas irregulares não-urbanizadas, como as comunidades do entorno. Esses projetos têm por finalidade evitar o despejo irregular de esgoto nas lagoas.
A Iguá reafirma seu compromisso com as metas e investimentos estabelecidos no contrato de concessão, e está certa de que irá contribuir de forma significativa para a melhoria na qualidade de vida dos moradores da região.”
Redação: Bruna Carvalho e Camille Couto
Fonte: CNN Brasil