Algas podem ser solução para crise do plástico do mundo

Depois de terminar as suas batatas fritas, coma o sachê de ketchup. Quando colocar uma massa na água para ferver, jogue também o saco dentro da panela. 

As instruções parecem esquisitas, mas não para quem já conhece a Notpla, uma startup com sede em Londres (Inglaterra) que está criando um substituto à base de algas para embalagens de plástico descartáveis. Fundada em 2014, a empresa encerrou no mês passado uma rodada de financiamento de 10 milhões de libras esterlinas (cerca de R$ 76,9 milhões), liderada pela empresa VC Horizons Ventures, para escalar e desenvolver ainda mais a sua linha de produtos. 

Espera-se que os produtos da Notpla sejam compostáveis ou dissolvidos após o uso –e alguns são até comestíveis. As opções atuais incluem sachês de condimentos, água e até álcool; uma película para produtos da despensa ou banheiro, como café ou papel higiênico; e caixas para alimentos entregues no delivery que substituem o revestimento à base de plástico por um de algas para torná-las totalmente biodegradáveis.

A diretora de design da Notpla, Karlijn Sibbel, diz que sua equipe olha para a natureza como inspiração “para a embalagem ideal”, tal qual a pele numa fruta. “Uma casca é sempre usada (como nutriente) pela natureza, desaparece e se torna parte do ciclo”, exemplificou. 

Trata-se de uma abordagem especialmente relevante enquanto o mundo lida com os efeitos de décadas de produção de plástico sem restrições. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), 331 milhões de toneladas de resíduos plásticos são produzidos globalmente todos os anos, e dos estimados 9,15 bilhões de toneladas de plástico produzido desde o início da década de 1950, cerca de 60% foram jogados em aterros ou descartados ao ar livre. Microplásticos (partículas minúsculas que são, frequentemente, o resultado de plásticos maiores que se desmembram) poluem o oceano, o ar e nossos corpos. 

Ao longo dos últimos anos, tem havido um movimento crescente contra os plásticos de uso único. Muitos especialistas argumentam que os produtos são desnecessários e nocivos, e as empresas foram atacadas por utilizá-los excessivamente – por exemplo: em 2019, uma imagem de laranjas descascadas e empacotadas individualmente pela rede norte-americana Whole Foods viralizou na internet. Nos Estados Unidos, alguns estados e municípios tomaram medidas nesse sentido. O estado de Nova York proibiu a maior parte dos sacos de plástico para compras. Miami Beach tornou ilegal o uso de canudos de plástico. A União Europeia proibiu os plásticos de uso único em meados do ano passado, e a Índia planeja seguir o exemplo no próximo ano, conforme o governo anunciou em agosto. 

“Está cada vez mais claro o tamanho do problema do plástico”, disse Sibbel. Os fabricantes estão “usando materiais que duram milhares dos anos” para os produtos que serão usados “por alguns minutos”.

“Essa incompatibilidade é algo que precisamos resolver”, acrescentou.

Os fundadores da Notpla, Rodrigo García González e Pierre Paslie, inicialmente procuraram algas como solução para o problema plástico do mundo porque elas são abundantes, crescem rapidamente, não competem com lavouras e sequestram o carbono do ar, conforme explicou a diretora da empresa. 

Há também muitas espécies diferentes de algas marinhas, e elas podem ser colhidas ou cultivadas. A Notpla utiliza espécies plantadas. 

“As algas não usam a terra, não precisam de pesticidas. Podem crescer nos oceanos e nos mares, para os quais trazem benefícios ao criar ecossistemas para que outros organismos prosperem”. 

Desde a sua fundação, a startup recebeu subsídios da agência governamental britânica Innovate UK e da organização sem fins lucrativos de economia circular Ellen MacArthur Foundation para o seu primeiro produto, o sachê Ooho, que embala porções individuais de líquidos. A nova rodada de financiamento busca aumentar a produção dos revestimentos Ooho e Notpla, ao mesmo tempo que desenvolve ainda mais o novo papel de algas marinhas e as películas multiuso.

O papel é feito com fibras deixadas a partir da criação de outros produtos Notpla e pode ser aplicado em itens como embrulho para presente ou etiquetas de roupa. Já o filme ou película pode embrulhar a maioria dos produtos secos ou molhados com baixo teor de água.

“O que é empolgante é que esta é uma película que pode substituir a maior parte das embalagens flexíveis que usamos no dia a dia”, contou Sibbel. Entre os potenciais produtos estão café moído, papel higiênico ou parafusos para montagem de mobiliário. Para os alimentos, tais como massas, eles até experimentaram a adição de sabores à embalagem, permitindo que a sua dissolução adicione um tempero ao prato. 

“É possível cozinhar com a embalagem. Como isso, podemos começar a repensar o que é possível fazer com esses materiais”, explicou. 

Mudanças na indústria 

Alguns dos produtos da Notpla estão disponíveis online. Além disso, a empresa fechou parcerias importantes no Reino Unido e na Europa Ocidental para fornecer bebidas em festivais como o DGTL em Amsterdã, nos Países Baixos, e o Glastonbury em Somerset, Inglaterra. Em 2019, a Notpla distribuiu 36 mil Oohos cheios da bebida energética Lucozade Sport durante a Maratona de Londres, e forneceu cápsulas comestíveis Glenlivet na London Cocktail Week.

No ano passado, a startup testou 30 mil caixas de delivery em diferentes restaurantes do Reino Unido, em colaboração com o serviço de encomenda de alimentos online Just Eat. Planos para oferecer as caixas em toda a Europa em 2022 estão em curso. 

Com a ampliação da oferta, a equipe da Notpla espera que as algas possam substituir o plástico de uso único na cadeia de suprimentos de forma mais ampla. No entanto, Sibbel sabe que a tarefa é imensa, dado o volume de plásticos usados em todo o mundo. 

“Eu não acho que um material ou solução vai resolver tudo, mas as algas de fato se encaixam nos pontos certos”, comentou. 

Repensar quando e por qual razão utilizamos o plástico será crucial para que a Notpla atue em outros setores. “O plástico pode fazer muitas coisas. Mas é sempre importante se perguntar ele é de fato necessário para este ou aquele uso”. 

A executiva cita como exemplo a embalagem de tomates, que tem buracos para deixar os alimentos respirar. 

“As propriedades do plástico não são necessárias. Então, para quê usá-los?”, Sibbel perguntou, rindo. “Espero ver o setor se mexendo e abraçando a mudança de uma forma positiva”.

Por Jacqui Palumbo da CNN

04/01/2022
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Uma resposta

  1. EXCELENTE NOTICIA, O MUNDO PRECISA DE NOVIDADES QUE ATENDAM A POPULAÇÃO NO QUE TANJE O SISTEMA DE COLETAS E DO PLÁSTICO QUE INUNDA OS OCEANOS E OS RIOS EM TODO O PLANETA. A SOLUÇÃO ESTÁ A PORTA.
    AOS CIENTISTAS MEU ABRAÇO E OBRIGADO.
    TRABALHO ISOLADO AQUI PARA DEFENDER O MEIO AMBIENTE, MAS ESTOU NA EXAUSTÃO.

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A Economia Circular é outra temática muito importante que a Academia Lixo Zero aborda em seus treinamentos e palestras. Ela se baseia na ideia de que os recursos naturais são limitados e, por isso, é fundamental que sejam utilizados de forma mais eficiente e sustentável, evitando o desperdício e a geração excessiva de resíduos.

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Além disso, abordamos também os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, que representam um conjunto de metas globais que buscam erradicar a pobreza, proteger o planeta e promover a paz e a prosperidade para todos. Os ODS são uma referência importante para as empresas que desejam adotar práticas sustentáveis e contribuir para o desenvolvimento sustentável global.

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A Gestão de Resíduos é uma preocupação crescente no mundo moderno, onde a sustentabilidade se tornou um aspecto crucial para a saúde do nosso planeta e o bem-estar das futuras gerações. Visando promover este conceito vital, a palestra “Resíduos, Lixo Zero e Certificação Lixo Zero” foi pensada para atender às necessidades das empresas e organizações que buscam compreender, mas também implementar práticas sustentáveis em sua gestão de resíduos.

O foco principal desta palestra é explorar os fundamentos da gestão de resíduos sob a ótica do Lixo Zero. Ela aborda uma variedade de estratégias eficazes para minimizar a geração de resíduos, destacando a importância da redução na fonte, reutilização e reciclagem. Estas práticas são essenciais não apenas para a redução do impacto ambiental, mas também para a promoção de um estilo de vida e de operações empresariais mais sustentáveis.

Um aspecto chave da palestra é a introdução à Certificação Lixo Zero. Esta seção detalha os critérios necessários para que uma organização seja reconhecida como Lixo Zero, além de discutir os benefícios significativos dessa certificação. Tais benefícios não se limitam apenas a melhorias ambientais, mas também incluem vantagens competitivas no mercado e a valorização da imagem corporativa.