Quando eu era criança considerava São Francisco de Assis um dos meus ídolos e no meu imaginário ele não era um santo, era um herói – tal qual os personagens dos quadrinhos que lia e filmes que assistia.
Minha admiração por ele era tanta, que algumas de minhas aventuras foi soltar os passarinhos das gaiolas dos vizinhos que os prendiam. Minhas primeiras ações ativistas a favor do meio ambiente, pró-vida e pela liberdade. São Francisco foi um revolucionário como Gandhi, Buda e Jesus. Uma andorinha que fez verão. E que verão ele fez.
Daí vem meu apreço pelo Papa Francisco, que além de jesuíta, é franciscano. Os jesuítas são formadores de redes. O Papa está construindo uma rede ambientalista muito forte entre os seguidores, não só do cristianismo, mas de todas as religiões, além de pensadores de linhas políticas, filosóficas e sociais diversas. Seu objetivo é garantir a sobrevivência da humanidade promovendo o cuidar de um bem comum: a nossa terra.
Inspirado em São Francisco de Assis, o Papa promove a inclusão, a harmonia e a paz, lançando a encíclica verde Laudato Si. Ela vem para renovar a força dos movimentos ambientais, trazendo a esperança em um tempo de crise. “Onde houver trevas, que eu leve a fé.”
“Louvada seja a Terra” ou “a nossa casa”. Assim começa a obra do Papa Francisco que coloca no mesmo patamar dos outros pecados, como matar e roubar, a agressão a natureza. E convenhamos, quando usamos mais do que a parte que nos convém dos recursos naturais, não estamos roubando matéria-prima essencial para que outras espécies vivam nesse planeta? Quando nosso lixo eletrônico é enviado para o outro lado do mundo, encontrando como destino final um lixão a céu aberto em Ghana, onde a fumaça dos fios queimados e os materiais tóxicos dos processadores e placas-mãe matam aos poucos milhares de pessoas, não é nossa responsabilidade?
O Laudato Si não deixa de fora o papel do governo e das indústrias na destruição do único local conhecido no universo adaptável para a vida humana, pois é um pedido de ação universal que tem que começar agora. Na verdade, já estamos atrasados.
Não creio que iremos ser todos simples como os franciscanos, mas podemos reduzir drasticamente o desperdício e distribuir mais igualitariamente nossas riquezas. E eu não falo de ouro ou outros minérios, eu falo da água, da terra, do ar e dos alimentos. Riquezas sem as quais é impossível viver e que todos devem ter acesso garantido como direito inalienável.
“Lanço um convite urgente a renovar o diálogo sobre a maneira como estamos a construir o futuro do planeta. Precisamos de um debate que nos una a todos, porque o desafio ambiental, que vivemos, e as suas raízes humanas, dizem respeito e têm impacto sobre todos nós”. Acho que essa frase também representa o meu desejo com o meu trabalho. Estou aqui para informar e auxiliar os que estão no caminho rumo ao lixo zero.
Ser lixo zero é uma forma de viver mais eticamente, com consciência sobre os impactos do seu consumo no mundo. Deve-se reduzir, reusar, reciclar, e compostar – devolvendo à terra o que ela lhe proveu – produzindo nada de lixo e o mínimo possível de resíduos. Além disso, você assume as consequências das suas escolhas. Ser lixo zero é planejar todos os momentos da sua vida, refletindo sobre o próximo passo a tomar para gerar menos impacto ambiental no planeta, garantindo o bem estar das futuras gerações.
Ao visitar o Rio de janeiro, o Papa conclamou aos jovens: “Sejam Revolucionários!”. Acreditem quando eu digo que não há nada mais revolucionário que SER LIXO ZERO hoje em dia. É ir contra a lógica reinante, capitalista, que coloca o consumo acima de tudo e santifica a cultura do descarte.
Então eu estendo o convite de Francisco: SEJA REVOLUCIONÁRIO, SEJA LIXO ZERO.
Tal qual a oração de São Francisco pede a Deus “fazei-me um instrumento de vossa paz”, eu acredito que o chamado do Papa Francisco convida para que nos tornemos instrumentos de mudança, focados na construção de uma comunidade solidária, baseada na virtude, gerando impactos positivos e prósperos em harmonia com a natureza, com o universo.