De acordo com uma matéria da CNBC do início deste ano, “Não há área mais quente em Wall Street do que ESG com fundos voltados para a sustentabilidade”. De fato, os ativos administrados nesses fundos se aproximaram de US$ 2 trilhões, após ingressos recordes durante o primeiro trimestre de 2021. Mas, o que exatamente esses termos representam? Qual a diferença entre Sustentabilidade e ESG? É sobre isso que vamos falar aqui neste conteúdo.
Também a Morningstar, empresa americana de serviços financeiros para investidores, destaca a relevância dessas operações. Por exemplo, informa que durante os primeiros três meses de 2021, as entradas globais em fundos ESG atingiram US$185,3 bilhões. Portanto, “2021 começou onde 2020 parou, com demanda recorde por opções de investimento sustentável em todo o mundo”, observou Hortense Bioy, diretor global de pesquisa de sustentabilidade da Morningstar.
Sem dúvida, declarações como essa evidenciam a rápida transformação em direção a uma economia de baixo carbono, além de maiores responsabilidades para a criação de valor para vários stakeholders. Por isso, em pouco tempo, ESG se tornou tema obrigatório na agenda da diretoria e está profundamente interligado com a estratégia geral dos negócios e da organização.
Dentre as principais tendências ESG podemos destacar:
- Empresas de private equity demonstram um grande interesse nas propostas ESGtech;
- Firmas de serviços financeiros estão lançando uma ampla gama de produtos e serviços ESG;
- Consultorias globais aumentam suas práticas de sustentabilidade e mudanças climáticas.
Diferença entre Sustentabilidade e ESG: essas palavras significam a mesma coisa?
Com certeza, ESG e sustentabilidade são as palavras-chave da década. Frequentemente usadas de forma intercambiável, é fato que ambas mostram a direção em que o mundo está progredindo. Mas, embora as duas abordem os aspectos ambientais e sociais, há uma diferença distinta em relação à divulgação e benchmarking de dados.
Primeiramente, é importante ressaltar que o debate sobre o impacto dos negócios na sociedade, o desenvolvimento sustentável e a sustentabilidade corporativa não é novo. Principalmente nas últimas décadas, esses temas ganharam relevância, por causa da globalização, bem como pelo nível crescente de participação de diferentes áreas da sociedade – incluindo cientistas e acadêmicos, “think tanks”, governo, ativistas ou cidadãos em geral.
Como consequência, a consciência sobre questões urgentes como desigualdade social e emergência climática, que constituem a agenda para o desenvolvimento sustentável inicialmente definida pelas Nações Unidas em 1987 (hoje conhecidos como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis – ODSs), recebeu protagonismo no mundo todo. Dessa maneira, o escrutínio sobre a forma como as empresas alcançam resultados ou usam os recursos naturais aumentou drasticamente.
No entanto, dada a incapacidade dos governos de legislar de forma suficientemente rápida para garantir a agenda de desenvolvimento sustentável, as empresas líderes celeremente abraçaram a oportunidade de liderar o debate. Com isso, se propuseram a moldar a presença corporativa para garantir sua própria sustentabilidade.
Para isso, as empresas começaram com tecnologias inovadoras e reinventaram formas de fazer negócios. Mas, também protegendo a reputação de suas marcas e ouvindo outras partes interessadas (stakeholders) além dos acionistas. Assim, pode-se dizer que a inovação é grande aliada da sustentabilidade e ambas caminham de mãos dadas nas organizações mais competitivas.
O conceito da Sustentabilidade
A sustentabilidade integra uma visão complexa e sistêmica que inclui preocupações com a equidade e justiça social e o desenvolvimento econômico. Ou seja, vai muito além de combater e mitigar os impactos ambientais. A saber, a sustentabilidade incorpora termos como:
- Economia verde,
- Baixa pegada de carbono (ou carbono zero),
- Conservação de energia, água e recursos,
- Energias limpas,
- Circularidade,
- Responsabilidade social corporativa,
- Diversidade e inclusão,
- Direitos humanos,
- Saúde e segurança,
- Cadeia de abastecimento verde,
- Desenvolvimento de novos produtos,
- Gestão de resíduos, etc.
Além disso, outro termo chave que se enquadra nas práticas de negócios sustentáveis é o tripé da sustentabilidade (ou TBL – Triple Bottom Line em inglês). De acordo com esse conceito, é exigido que uma empresa inclua as pessoas e o planeta junto com a obtenção do lucro em seu balanço patrimonial. Para que isso ocorra, a empresa é obrigada a dialogar com uma vasta gama de stakeholders e especialistas.
Significado do ESG e a relação com a Sustentabilidade
Já o ESG aponta para um conjunto específico de critérios ambientais, sociais e de governança. Sem dúvida, tornou-se o termo preferido dos investidores e mercados de capitais para definir um investimento responsável.
Assim, os investimentos ESG possuem várias métricas específicas, mas não necessariamente visam resolver questões sociais ou ambientais, ou os ODSs. Por exemplo, temos o fato de empresas de tabaco ou mineração que, apesar do impacto negativo na saúde das pessoas ou do meio ambiente, são atualmente classificadas como bons investimentos ESG em vários rankings e índices.
Em resumo, a discussão mais ampla na indústria vem através da sustentabilidade. Mas, isso evoluiu para incluir desempenho e “accountability” de critérios ESG para qualificar as oportunidades de investimento.
Sobretudo, os dados ESG ajudam a identificar retornos ajustados ao risco, além de relatar e destacar a relevância para as oportunidades de investimento. Sem dúvida, a ênfase em todos os três pilares do ESG, que vamos explicar abaixo, ajudou a mudar a forma como as empresas medem e divulgam seu desempenho. Os tópicos ESG estão interligados e destacam o risco multifacetado para os aspectos sociais, tecnológicos, políticos, ambientais e econômicos do negócio. Dessa forma, as empresas buscam ativamente mitigar seus riscos ESG, para garantirem a sustentabilidade dos seus negócios junto ao setor financeiro.
Os três pilares do ESG:
E – Environment/Meio Ambiente
Denota como as empresas gerenciam seus impactos ambientais, que têm consequências para a sociedade e o planeta. Então, leva-se em consideração o escopo de atuação:
- emissões diretas de fontes próprias ou controladas (Escopo 1),
- emissões indiretas da geração de eletricidade adquirida, vapor, aquecimento e resfriamento consumidos pela empresa (Escopo 2),
- Ou, ainda, todas as outras emissões indiretas da cadeia de valor de uma empresa (Escopo 3).
S – Social
Denota como uma empresa cuida das pessoas e incentiva aquelas que fazem parte do seu círculo. Na verdade, trata-se de como isso impacta a comunidade em geral, contribuindo para o crescimento inclusivo. Aqui os aspectos de inclusão e diversidade pavimentam o caminho para um futuro sustentável. Mas, considera-se também, por exemplo, a satisfação dos clientes, direitos humanos e condições de trabalho, proteção de dados e privacidade, etc.
G – Governança
Denota como as empresas devem se manter em conformidade legal (compliance), garantindo transparência e as melhores práticas do setor, além do diálogo com os reguladores. Também aponta para o sistema interno de controles, práticas e procedimentos para governar e tomar decisões eficazes. Aqui aborda-se aspectos de liderança, composição de conselhos, compensação de executivos, corrupção, lobby, contribuições ou doações políticas etc.
Práticas sustentáveis e ESG: intersecções
Em 2019, a União Europeia (UE) anunciou um plano ambicioso (Green New Deal) para um futuro altamente descarbonizado. De acordo com esse plano, comprometeu-se a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 55% até 2030, em comparação com os níveis de 1990. Da mesma forma, os Estados Unidos prometeram reduzir as emissões em 40 a 43% nos mesmos nove anos.
Para que seja possível atingir essas metas ambiciosas e combater as mudanças climáticas, os negócios desempenham um papel central para ajudar seus respectivos países. Afinal, eles têm o dever de cuidar do planeta e das pessoas, e só podem fazê-lo com práticas sustentáveis. Assim, são responsáveis tanto por suas próprias ações, quanto pelas de seus stakeholders. Isto é, desde clientes até investidores, funcionários e o público em geral – todos estão de olho no impacto ambiental e social das marcas.
A obrigatoriedade cada vez mais real das práticas de ESG e Sustentabilidade nas empresas
Atualmente, as empresas têm que reduzir sua emissão de CO2, ou podem perder sua licença para operar. De fato, hoje o movimento em direção à sustentabilidade inclui essa transparência, com implicações financeiras para as empresas que não o fizerem. Aliás, os esforços de sustentabilidade corporativa estão mudando rapidamente de voluntários para obrigatórios.
Portanto, há uma direção clara para as empresas desenvolverem estratégias robustas de sustentabilidade e ESG. Inclusive, prova disso é que muitos países implementaram regulamentações, como impostos sobre emissão de carbono, enquanto os setores financeiro e bancário integraram regras ESG em seus critérios de financiamento. Por isso, houve a mudança de paradigma do histórico “business as usual” para a implantação agressiva de práticas de gestão de risco ESG.
ESG tornou-se uma métrica cada vez mais importante para o mercado de capitais
Hoje sabe-se que empresas com alto desempenho em critérios ESG apresentam riscos mais baixos, retornos mais altos e são mais resilientes em tempos de crise. Isso acontece porque, em função destas análises e métricas, estas empresas se dedicam a desenvolver melhores relações com seus fornecedores e clientes. Dessa forma, abrindo oportunidade para novas abordagens e soluções de forma contínua.
Além disso, focadas no longo prazo, conhecem melhor suas cadeias produtivas. Por exemplo, podem garantir a continuidade de fornecimento em caso de uma crise. Inclusive, durante a pandemia isso ficou muito claro para os investidores.
Por fim, ressaltamos que as recentes mudanças na economia, como a pandemia e seus efeitos sem precedentes em nossa sociedade, e a nova era da digitalização também mudaram as pessoas. Por isso, temos atualmente menos paciência com o “greenwashing” do que antes. Assim, simples promessas em adotar “práticas sustentáveis” não bastam. Pelo contrário, as empresas devem mostrar na prática, regularmente, ações e resultados claros e objetivos, através de relatórios ESG precisos, concisos e comprometidos com o caminho que estão seguindo.
Diferença entre Sustentabilidade e ESG: conceitos diferentes, mas integrados
Em resumo, vimos que os “mantras operacionais do futuro”, ESG e sustentabilidade abordam ambos os aspectos ambientais e sociais, mas diferem bastante quanto à divulgação e benchmarking de dados. Enquanto a sustentabilidade integra uma visão complexa e sistêmica com estratégias práticas que vão muito além de combater e mitigar os impactos ambientais, o ESG define critérios para qualificar as oportunidades de investimento.
Assim, a sustentabilidade é essencial para que os critérios ESG que divulgam o desempenho das empresas seja favorável aos investidores. Em outras palavras, as empresas precisam dos ESG para garantirem a sustentabilidade dos negócios junto ao setor financeiro.
Conclusão
Diante disso, é preciso profissionais com profundos conhecimentos sobre ESG, que saibam implementar as melhores práticas nas organizações.
Redação: Monica Kruglianskas
Fonte: Progesa