Três meses após seu início, a limpeza do interceptor oceânico — estrutura que leva o esgoto de oito bairros da Zona Sul até o emissário submarino de Ipanema — já trouxe resultados positivos para a despoluição de um cartão-postal da cidade, tão conhecido pela beleza quanto pela sujeira de suas águas e faixa de areia. De acordo com o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), a Praia de Botafogo apresentou índices próprios de balneabilidade em dois boletins seguidos no mês de junho e dois boletins em julho, o que não ocorria há seis anos.
Inaugurado na década de 1970, o interceptor tem nove quilômetros de extensão e, agora aos cuidados da concessionária Águas do Rio, passa por uma faxina pela primeira vez.
— É uma questão de natureza técnica. A partir do momento que você tem exemplos como o da Praia de Botafogo e a Marina da Glória, de problemas históricos sendo neutralizados, você vê que o negócio acontece. Não é que não tem jeito, não se queria que tivesse jeito. Depois de aplacarem causas da poluição na Baía de Guanabara, a natureza começa a trabalhar. Se você parar de lançar qualquer poluente aqui, daqui a um tempo os níveis de poluição estarão bem melhores — diz o biólogo Mário Moscatelli.
A falta de chuvas, que costumam carregar dejetos da cidade até o mar, deu uma forcinha para emprestar às águas da Enseada de Botafogo aparência surpreendentemente limpa. Moscatelli aponta, no entanto, outras bem-vindas novidades:
— Além das condições climáticas, destacaria algo que foi observado no dia 16 de junho, quando as águas, em plena maré baixa, estavam cristalinas. Isso ocorreu porque os despejos de esgoto que ocorriam na foz dos rios Banana Podre e Berquó haviam sido de alguma forma neutralizados.
Além do trabalho de desobstrução do interceptor oceânico, o que combate o extravasamento do esgoto para os rios e a baía, a Águas do Rio implantou uma estação elevatória (unidade de bombeamento) na Praça do Índio, no Flamengo, que desvia para o interceptor cerca de 50 litros por segundo de esgoto, antes a caminho do mar, em um trecho entre as praias do Flamengo e de Botafogo.
O mesmo sistema que leva o esgoto da Zona Sul para o emissário submarino também vem recebendo o curso do Rio Carioca, para evitar que aproximadamente 180 litros por segundo de água com contribuições ilegais de esgoto sejam despejados diretamente na Baía.
Metas de despoluição
A concessionária tem metas de saneamento para os próximos 35 anos. Nos cinco primeiros, o investimento previsto, de R$ 7,4 bilhões, contempla o término da construção dos coletores de esgoto ao redor da baía e do esgotamento sanitário nos municípios que contribuem com a Bacia do Guandu.
— Vamos fornecer condições para a Baía de Guanabara se regenerar e, em cinco anos, vamos ter uma mudança que poderá ser notada pelo carioca — assegura Sinval Andrade, diretor superintendente da Águas do Rio.
A expectativa é que a intervenção no interceptor submarino retire, até março de 2023, duas mil toneladas de materiais acumulados, melhorando o sistema de esgoto e reduzindo o tradicional mau cheiro na altura do Posto 5, na Praia de Copacabana. A operação, que começou em abril, já coletou 600 toneladas no trecho entre a Glória e Botafogo e, desde 21 de junho, outras 140 foram recolhidas no trecho de Copacabana.
Por Marcella Sobral, Jornal O Globo